Tuesday, February 06, 2007

Mudanças de Espírito

Removi caixotes gigantes cheios de livros de todas as espécies, livros de faculdade, romances, sebentas, dossiers com matérias jamais lidas, cadernos de pensamentos e até uma lata de cores onde se põe canetas. A cama era de ferro forjados dos anos 20, outrora fora grená agora vestia-se com um azul eléctrico utilizado também para pintar todas as pontas de metal que encontrei naquela casa. Consegui passar essa cama sem a desmontar para a sala por uma porta de um metro de largura e um metro e oitenta de altura. Era a casa mais baixa que alguma vez vira. Depois da cama seguiu-se a estante já partida na parte de trás e toda a tralha que se espalhava no chão. Depois deste processo, pus mãos à obra. Abri uma lata de tinta branca, agarrei no pincel e pintei um quarto sem luz natural. Tecto, paredes, borde e esquinas. Os cheiros da idade desapareceram. Depois deste processo toda a mobília que enchia a sala passou novamente para o quarto de 5 metros, onde poisou durante um par de horas. A sala era um pouco maior mas não muito, tinha uma mesa de nogueira escura, abria dos lados para se tornar maior se necessário, e fechada fazia um quadrado perfeito. As cadeiras faziam conjunto. Comprei almofadas azuis, verdes e cor de laranja e beges. Essa mesa passou para o quarto onde coloquei o computador. A cama ficou ao lado daquela janela que beijava o jardim. Toda a casa vivia à volta daquela janela, a casa respirava pela janela, olhava pela janela, espreitava pela janela, comia à janela, lia à janela, falava pela janela. Sempre que a janela se fechava o espaço tornava-se inexistente.